quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

O que desejo para você...

Eu sei que já passou a data, mas tava sem tempo de passar a limpo este texto que escrevi a próprio punho esses dias. Mas agora vai: Dizem por aí que é Natal, e por isso venho aqui mostrar o que desejo para as pessoas que amo, prezo e gosto: Somente felicidade. Vida sem felicidade não tem cor, não tem brilho e nem sabor agridoce. É possível ser pobre e feliz, doente e feliz, confuso e feliz. Mas, sozinho e feliz - não!
Não venham me dizer que é preciso encontrar a felicidade em nós mesmos, é tudo mentira. Acho que já escrevi algo assim aqui no blog. Mas, hoje, tenho a plena convicção de que não se pode ser feliz sozinho. Não desejarei que você ganhe na Mega da Virada, nem que você nunca precise de remédios, nem que tenha tamanha paz que consiga pensar o tempo todo em apenas uma folha de ofício em branco. Isso é utópico demais.
Quero apenas que vocês sejam felizes, e para tanto não se faz necessário nenhuma destas coisas que citei logo acima. Já fui feliz um dia e vou explicar como é: Como eu disse, é impossível ser feliz sozinho. É preciso ter alguém que te faça dar risadas, acordando a casa toda. É necessário ter a companhia de um sujeito que eleve a sua auto-estima, que não se importe em mentir para te animar um pouquinho. É fundamental ter uma pessoa que lhe sirva de porto seguro, pois um dia você vai precisar de um colo e de ouvidos ou, simplesmente, de olhos. É imprescindível saber que, no peito desta pessoa há uma 'partileira' só para o seu nome repousar.
Você já conheceu alguém assim? Seja sincero. Um irmão, amor, pai, amigo, mãe? Eu já e me sentia plena, completa, fechava os olhos e dizia que podia morrer neste segundo, pois morreria feliz. Então, desejo tudo isso para você. Nada além. É o que eu posso fazer nesta data, nesta época, pensar em algo que realmente valha a pena desejar, de coração aberto. Você vai entender o dia que sentir...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Fazia calor, e ele sorria

Sábado, como há muito tempo não fazia, coloquei meus óculos grossos, sentei no sofá, e abri o jornal. Eis que entre matérias como o alto custo da produção agrícola no país e a iminência de uma crise econômica mundial, encontro um texto do jornalista David Coimbra. Aposto que não foi por acaso que meus olhos passaram pelo texto e se interessaram em lê-lo. Segue abaixo a crônica:

Fazia calor, e ele sorria


Era uma dessas tardes de canícula que faziam pensar sobre os milênios que o ser humano atravessou sem ar-condicionado. Como conseguimos? Como chegamos até aqui?
Havia deixado o carro num estacionamento, já ia alcançando a calçada, quando o vi. Estava dentro da guarita da portaria, uma dessas casinholas onde mal cabe uma pessoa. Era um homem de pele negra luzidia, de certa idade, imaginei que tivesse filhos e netos. Suava às catadupas dentro do uniforme. Só de vê-lo fiquei com calor. Estiquei o pescoço e brinquei, meio em solidariedade, meio para lhe aliviar o sofrimento:
– Vida dura...
Ele abriu um sorriso.
– Nem tanto – respondeu com animação surpreendente para aquele dia pastoso. – Pior seria se não tivesse trabalho. Além disso, economizo com sauna!
E atirou de dentro do seu esconderijo uma risada de satisfação com a própria piada.
Despedi-me dele sentindo-me bem. Ali estava um homem que sabia viver. Fosse outro, passaria se queixando do emprego inferior à sua dignidade, do salário inferior ao seu merecimento, do chefe que o colocara ali por perseguição, do governo que não o amparava por incompetência.
Na verdade, pouco interessa a condição em que alguém se encontra. Se o ambiente é desta ou daquela forma. É difícil encontrar duas pessoas que, estando na mesma situação, vivam no mesmo mundo. O interior é que vai fazer com que o exterior seja positivo ou negativo.
Você pode constatar isso todos os dias. Em tudo e em todos há coisas boas e ruins. Você é quem escolhe o que vai pegar para você. E a sua escolha depende do que você é. Pessoas boas enxergam o lado bom das outras pessoas e alegram-se com isso e tornam a convivência leve. Mas há quem só veja os defeitos dos outros e assim os defeitos se aprofundam, tornam-se mais graves e mais feios, e a convivência fica pedregosa. Ou seja: a responsabilidade não é de quem é julgado, é de quem julga. As coisas não são bonitas à sua volta? Olhe para dentro. Talvez lá é que elas sejam feias.

Como o brasileiro vê o Brasil e os governantes do Brasil?
Parece que houve gente enriquecendo com as privatizações do governo tucano, leio isso na Carta Capital. Parece que nunca houve tanta corrupção como a que grassa no governo petista, leio isso na Veja. A impressão é de que o Brasil afunda num mar de lama, para repetir a expressão de Vargas.
Mas não é bem assim. O Brasil melhorou de Itamar Franco para cá. São 18 anos de estabilidade econômica e política, o que resta provado até pela quantidade e pela profundidade das denúncias de corrupção, que antes havia, mas não aparecia.
Então, por que o brasileiro não se comporta mais como aquele homem cordial e fagueiro de tempos muito piores, como, por exemplo, os tempos do mar de lama de Vargas? Por que o brasileiro não percebe que o Brasil evoluiu? Será que o brasileiro “piorou”? Ou será que há mais homens como o vigia do estacionamento, suando em silêncio, mas contentes com a vida?

* Texto publicado na Zero Hora, 16/12/2011

Me surpreendi com a leitura, eu que reclamo tanto da vida, das situações impostas, do calor, do frio, e o sujeito me diz que pior seria se não tivesse emprego. Creio que este seja o grande defeito da humanidade: reclamar. Reclama-se no twitter, reclama-se no facebook. Nunca fui uma pessoa otimista, desde a escola, sempre esperava o pior resultado nas provas, pois se fosse mal realmente, não me surpreenderia. E assim é com as coisas da vida. Senti como se tomasse um murro no meio da cara, como se David Coimbra estivesse escrevendo para mim e dizendo: Acorda Priscila, você não vai sair para brincar? Venha brindar um novo dia. O sol nasceu, o céu está azul. É tudo lindo como você. Pois é, não quero dizer que acordei achando tudo perfeito, mas, após este texto, garanto que estou refletindo melhor sobre meus próprios conceitos.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Irônico

Um homem velho fez 98 anos
Ganhou na loteria e morreu no dia seguinte
É uma mosca preta em seu Chardonnay
É o perdão no corredor da morte, dois minutos atrasado
Isso é irônico... não acha?

É como chuva no dia do seu casamento
É uma passagem de graça, quando você já pagou
É o bom conselho que você não aceitou
E quem teria imaginado... isso acontece

Bem, a vida tem um jeito engraçado de aprontar com você
Quando você pensa que tudo está OK e tudo está indo bem
E a vida tem um jeito engraçado de te ajudar quando
Quando você pensa que tudo está dando errado e tudo explode na sua cara

Um engarrafamento de trânsito quando você já está atrasado
Um sinal de 'proibido fumar' no seu intervalo para o cigarro
É como dez mil colheres quando tudo o que você precisa é de uma faca
É encontrar o homem dos seus sonhos
E então encontrar a linda esposa dele
E isso é irônico... você não acha?
Um pouco irônico demais... eu acho...

A vida tem um jeito engraçado de aprontar com você
A vida tem um jeito engraçado de te ajudar

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

É, eu confesso que não é exatamente a realidade que eu esperava encontrar. Talvez isso mude. Talvez você entre na minha vida sem tocar a campainha e me sequestre de uma vez. Talvez você pule esses três ou quatro muros que nos separam e segure a minha mão, assim, ofegante, pra nunca mais soltar. Talvez você ainda possa pular no rio e me salvar. Ou talvez eu só precise de férias, um porre e um novo amor. Porque no fundo eu sei que a realidade que eu sonhava afundou num copo de cachaça e virou utopia.

sábado, 6 de agosto de 2011

Um calmante, por favor!

Já faz um ano que ando pelas ruas carazinhenses abaixo de chuva. Lembro como se fosse hoje o dia que tive que enfrentar as ruas de pedras irregulares nos fins de noite, onde era só eu e o vento. Mas, prometi para mim mesma que não passaria de um ano, e eis que chegou a hora de mudar novamente. Para quem não entende, geminianos se cansam rápido demais de tudo. É muito penoso conviver com um de nós: as pessoas precisam nos surpreender a cada dia, pois se não, fechamos o livro, damos as costas e olhamos o horizonte. Me cansa olhar para estas paredes todos os dias, e não vejo nenhum balde de tinta vermelha para que eu possa pintá-las sem precisar trocar de lugar. Eu sei que sou difícil, mas sou exigente comigo, com a vida e com os outros. E chegou a hora de querer mais, de oferecer novos ângulos às retinas. Prometi para mim mesma durante a faculdade que quando saísse dali nunca mais faria alguma atividade que me deixasse tão apática e amuada como as vésperas de fins de semestres. Mas, a vida sorriu para mim, zombeteiramente. Não foi isso que quis, definitivamente. E sei que ninguém me entende. Para os outros estou em um momento cômodo, eles não conseguem ver que eu preciso de um calmante, urgente. Se o problema sou eu, vou descobrir assim que arrumar um novo emprego e novos ares e as coisas permanecerem exatamente iguais. Meu estado emocional pede socorro e fui capaz de encontrar auxílio em uma cartelinha prateada com vários pontinhos coloridos. Nem passar na carteira de motorista eu consigo. – Eu sei que você sabe dirigir, mas você ficou muito nervosa. Se não fosse por isso você passava. – Mas moço, eu não sei mais o que fazer! Eu preciso de paz. Preciso ter outras perspectivas para os meus dias além de chegar em casa e apenas morrer na cama, vendo a louça e as roupas sujas acumulando. Eu quero um hobby! Não como o da Carla Perez, mas algo que me faça existir: um time de bolita, aulas de gaita de boca, uma simples corrida no fim de tarde, fazer meus artesanatos, ler. Nossa, há meses Fernando Moraes permanece ao lado da minha cama sem receber uma atenção. O mais importante é ir em busca e nunca desistir daquilo que quero alcançar, pois não quero ser uma pessoa frustrada e chegar na velhice pensando na porção de coisas que não fiz por medo de arriscar: a minha viagem de trem, as milhares de fotos que quero tirar, os novos amigos que quero conquistar, o retorno aos braços de quem me acalma, as línguas que quero falar, os cachorros que quero ter, os livros que quero comprar, os discos que quero ouvir, as cervejas que quero beber, as aulas de historia que quero ter, a Rural que quero dirigir, o por do sol que quero assistir. E é por isso que hoje abro a temporada de caça, a melhores perspectivas, qualidade de vida e paz. Nem que eu comece reformando aquele balcão com jornais que há meses tenho vontade...

quarta-feira, 20 de julho de 2011

No último mês perdi uma pessoa mitológica da minha infância. E não sei se foi eu que me acostumei com a morte, ou se ainda não consigo acreditar. Não sou uma pessoa de pouca fé. Não. Tenho minhas crenças e me agarro nelas. Não gosto de religiões. Porém, não sei o que pensar sobre a morte, não tenho certeza de nada, não possuo crenças a este respeito.
Há alguns anos senti a primeira perda doída, não que as outras não fossem, mas eram pessoas que pouco convivi e eu era apenas uma criança. Para mim aquilo foi o cair de um precipício, me vi sem saber o que pensar, na loucura de não entender o que acontece depois. Passei a temer muito este fim, e rezei para não morrer tão nova e para não sentir novamente a dor de uma despedida.
Quando fecho os olhos e penso na nona, lembro-me de muitas coisas. Primeiro era a viagem até Carazinho, que para mim, na insignificância de minhas curtas pernas, era como dar a volta ao mundo. Era chegar e ter o rosto esmagado por suas bochechas e mãos. Na despensa fechada pela cortina um balde de leite cheio de varinhas salgadas que só ela soube fazer. O relógio de corda que batia, as parreiras, o poço, a caçada às borboletas com sacos de batatas, a voz do castelinho de manhã cedo, a casinha de bonecas que ela me ajudou a fazer, o beliche.
A única certeza que tenho é que continuo sem saber no que acreditar; que o fim, se é que ele existe, permanece como um temor e incógnita.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Quanta ironia

Na última semana fiz uma pessoa chorar enquanto eu tentava compreender o que é felicidade. Para que vocês entendam, nós comentávamos sobre uma pesquisa realizada aqui em Carazinho que apontou que 96% das pessoas entrevistadas se sentem muito felizes. Atualmente afirmo para mim que estou bastante infeliz. Para os outros estou tentando sempre assegurar o contrário, ou pelo menos abrandar este prognóstico, pois me disseram que eu tenho que ser feliz pelo simples fato de estar viva, de poder sentir o calor do sol, de saber que existem pessoas que gostam um monte de mim e se preocupam comigo, enfim.
Não estou de acordo com o que vivo. Mas, por vezes já refleti analisando que o que vivo hoje é grande parte do todo que um dia eu sonhei com toda a minha força, que fez parte das minhas orações. Ou seja, estar formada em algo que por mais estafante, preenche a pessoa que sou, ter um canto só meu, um fogão para me distrair, ninguém para disputar o controle remoto (até porque minha Tv não possui estas modernidades), uma independência financeira – a melhor parte. E nestas vezes chego a quase me contentar com a situação.
Mas era justamente isso que eu comentava com a pessoa citada acima. Ela surgiu no ambiente afirmando que mesmo que as pessoas não sejam extremamente felizes, elas, quando questionadas, sempre dizem que sim, afinal, possuem saúde, família, estas coisas. E me peguei pensando que se viessem me perguntar se sou feliz – é, responderia que sim.
Foi então que expliquei que, na minha opinião, não existe uma felicidade plena, completa, em sua totalidade. Não. Peço desculpas àqueles que um dia acreditaram nisso. Talvez ela deveria ser uma destas pessoas que creem na plenitude e por isso chorou. Falei que a vida é uma intensa busca pela felicidade. E não é? Vejo por mim, que tenho tudo o que um dia, na lonjura da minha adolescência, quis incessantemente. Mas que hoje deseja muito mais. E isso também não vai findar quando eu as conquistar. Até porque – e eu falei isso para ela – se um dia eu conquistar tudo o que desejei e perceber que não existe mais nada para ir em busca, para lutar, para chorar de desespero, aí a vida acaba por aí. Não há mais razão para seguir adiante. Foi neste momento que ela tapou o rosto com a mão, enrubescendo-se, baixou a cabeça e se foi, engolindo com dificuldade.
No entanto, esta conversa serviu para que eu convencesse a mim mesma de que se hoje me sinto assim, amanhã quando tiver nas mãos o que quero hoje, perdurarei sentindo esta falta aqui dentro. As pessoas mudam com o tempo, e o que agora é essencial, amanhã será apenas um detalhe, como a minha ânsia adolescente em rumar sozinha nas ruas, sem precisar anotar o sobrenome dos que me relaciono. Hoje isso é um detalhe, pois meus anseios são bem mais complexos. E, somente quero me sentir plena o dia que meus olhos cor de terra se fecharem para nunca mais. Mas, se eu descobrir que depois disto, realmente existe algo mais, então seguirei querendo sempre mais.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Abrindo o armário

Eu achei que ficaria um bom tempo sem escrever por aqui, até aprender a não lamuriar, até saber colorir as gravuras do meu dia-a-dia. Ando em uma análise frequente, tentando ansiosamente me encaixar em determinados estereótipos, que na verdade não foram feitos para eu vesti-los. Sou inconstante e, por vezes, incompreendida. Consigo perceber de longe meus erros, mas evitá-los já é tarefa para um mágico.
Mas, talvez nem valha a pena citar aqui que estou abrindo meu armário - colocando as roupas no sol do inverno, para que o cheiro de velho vá embora com o vento, sacudindo um pouco da poeira, provando que os monstros escondidos ali são apenas coisas da minha cabeça – pois eu sei que logo, logo, chove de novo, molhando fronhas com água salgada.
Mas, eu só quero contar que estou bem mais contida com minhas fraquezas, tentando provar o melhor pedaço do bolo. Se a vida lhe der limões, faça a limonada, não é isso que você quer? É um exercício minucioso, onde um tropeço pode lhe arrancar a unha do dedinho do pé. Se todo mundo consegue dar um sorriso para a vida, porque eu não? Olha que às vezes até eu me surpreendo. E me espanto ainda mais com minha oscilante montanha russa ou roleta russa, que me deixa a mercê da sorte. É, sou inconstante. E se hoje estou abrindo o armário, amanhã ou depois com uma rajada de vento minhas portas podem se fechar. Assim são as pessoas comuns, ora estão felizes, ora tristes. ‘Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro’.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda

terça-feira, 31 de maio de 2011

Felicidade é só questão de ser

É incrível como diariamente assuntos visitam a minha mente para que eu os desseque. Hoje, enquanto tomava banho, comecei uma análise de mim mesma, e não há momento mais propício para isso como a semana que antecede o aniversário da gente: o fim e início de um ciclo. Atualmente, muito mais do que antigamente, passei a aprender a encontrar alegria em pequeníssimas coisas, como tomar banho ouvindo música. Loucura. Mas já falei aqui, em outro post, sobre o poder que as músicas têm de mudar nosso humor, da mais inebriante tristeza até a confortadora paz.
Se alguém me perguntar qual a melhor coisa do jornalismo, vou responder que somente ele me ensinou a dar valor e observar a beleza nas pequenas coisas. Pra começar, os olhos da gente se transformam em lentes, e cada olhar já procura uma moldura para pregar-se à parede. As cores fortes, as opacas, uma poça, a rua, um sorriso. Tudo se transforma em papel fotográfico. Cada rosto na rua nos desperta uma curiosidade infinda em descobrir qual história extraordinária estaria por trás daquelas rugas, daquele olhar caído. Vivências já se materializam na folha branca do caderno velho e viram crônica. O aroma do café sempre terá seu valor. Terminar o dia, a semana, o mês, o ano. O fim é sempre confortador. Entregar a matéria, o especial, encerrar a edição, acabar a transcrição. Um sábado de folga com sol, família, amores e cachorro. A maionese do domingo, ah a maionese!
Confesso que há dias venho levantando um dossiê sobre o que me traz felicidade definitivamente. E mesmo que por vezes me afundo na minha solidão e descontentamento com tantas coisas, por outras, pequenos detalhes me tocam profundamente e puxam pelos cabelos a responsável pela felicidade: eu mesma. Tem vezes que não percebo no momento, que a felicidade é um vento a soprar, desfolhando as árvores com folhas cor de abóbora. Mas, quando sinto que apenas tomar banho ouvindo música é capaz de me fazer respirar fundo, fechar os olhos e sentir uma paz, mesmo que seja do tamanho do dedo mingo da gente. Nossa! Tenho uma vontade de me esganar, por às vezes acreditar de não tive a 5ª Série forte o suficiente para encontrar alegria em mim mesma, sozinha.
E, completando o 22º ciclo de invernos, só posso fechar os olhos, assoprar as velinhas e pedir que eu possa continuar sendo capaz de me sensibilizar com as coisas simples, de me encontrar em mim mesma, de apreciar a minha companhia e de viver sempre em busca de uma plenitude que, no fundo, eu sei que não existe, mas que viver não teria nenhum sentido se a gente não acreditasse. Por mais que a gente perceba que nunca chegará lá, que o impossível é mais um antigo vício, e que a angústia perdure para sempre...

‘Deve haver alguma coisa que ainda te emocione’.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

‘Olha Lopes’

Desde a data fatídica de 2 de junho do longínquo 1988, me sentia um ser muito estranho, sempre distante dos padrões impostos pela sociedade, tanto de beleza quanto de comportamento: digamos que sempre fui um pouco antissocial. Porém, isso começou a mudar assim que minha vida se cruzou com o jornalismo, muito que por acaso. Sinceramente, nunca foi meu grande sonho de infância ser jornalista, até porque sempre fui muito tímida. E, digamos que caí de gaiato nesta história mais pelo empurrão de quem queria muito me elogiar e não sabia como, então falava que eu escrevia bem. Ha-ha. Só porque eu era criança e escrevia palavrinhas difíceis para as crianças da minha idade minha família achava que eu tinha potencial para ser repórter um dia. Na verdade atribuo isso a ninguém além de minhas duas avós, professoras, e que inseriram um vocabulário um pouquinho mais rebuscado que os demais, aos almoços e reuniões familiares.
E assim, jornalismo passou a ser um ‘sonho’. E eu deixava ele lá nos sonhos, pois era mesmo impossível de ser realizado. Até que o Cesnors entrou na minha vida, com esse nome estranho mudou tudo de lugar, inclusive eu. Uma universidade pública, a 70 Km de casa, e com o curso de Jornalismo. Fudeu! Virei Bixo! Em um dos primeiros dias de aula, uma professora inicia uma conversa, pedindo para que cada um falasse de onde vinha e qual o objetivo com o curso. Pensei rápido, pois eu só sabia de certeza da onde eu tinha vindo: ‘da terra do Carijo da Canção Gaúcha, Tche! Ah, e meu objetivo com o Jornalismo é ser um dia a garota do tempo’. ‘É, geralmente para ser a moça do tempo eles exigem uma aparência’, foi a resposta da querida professora. Olha, não quero refletir sobre o que ela quis dizer com isso.
Ok! Estava inserida no habitat dos jornaleiros. Mas, como eu estava falando, sempre me senti estranha, até entrar neste mundo. Hoje, escrevo para iniciar uma seção de análise imaginária, não para mim, e sim para as pessoas que me cercam, pois preciso entendê-las. É questão de honra! E hoje, caros leitores, descobri que sou completamente normal; que tenho sim os sentimentos à flor da pele, mas consigo controlar ao menos os ruins e malévolos, ou deixá-los soltos, mas na minha cabeça; que levo uma vidinha infame, acordando toda manhã e dormindo à noite. Talvez a vida de vocês seja assim também, normalzinha. Ou, talvez vocês digam: ‘nossa, não sou normal, tenho tantos problemas’. Mas, meus amigos, vocês não conhecem pessoas anormais...
Ainda na faculdade, encontrei pessoas que sabiam menos ainda o que estavam fazendo ali, ao menos deve ser o que passava na cabeça de alguém que, em uma prova de gramática pergunta ao professor se a palavra ‘mesmas’ existe. Garota, este não é o seu lugar! Tinha também os lunáticos, de olhos arregalados, que vigiavam as palavras de todo mundo, e se um riso largo viesse do fundo da sala, eles olhavam com olhos de repressão, como se estivéssemos gargalhando deles. Em seguida comecei a perceber o quão normal eu era. Tranquilinha, ali no meu canto, sem grandes erupções de personalidade.
Talvez eu esteja rotulando os jornalistas, por acreditar que foi mergulhada neste contexto que encontrei a anormalidade do ser humano. Ou talvez, até a faculdade, eu era pequena demais, assim como as pessoas que me rodeavam, para eclodir um lado B latente. Das duas, uma.
Pulando a faculdade, hoje, inserida no cruel habitat da vida Real, com letras maiúsculas, sou jornalista atuante, uma vez que ser jornalista formada não vale muita coisa. Nunca vivi tão tranquila comigo mesma, porque a convivência diária com pessoas muito estranhas me fez perceber que sou uma água com açúcar.
Convido vocês a serem meus analistas, então, eu os chamarei de Lopes, para imitar a Mercedes:
Olha Lopes, minha vida é corrida, mas a rima perfeita é: fudida. O que eu tenho? Não, nada, eu sou normal. Vim aqui, Lopes, porque preciso entender o que acontece com as pessoas que eu convivo. E porque eu preciso entendê-los? Pô, porque eles estão acabando com a minha vidinha normal. Afetam-me diretamente, irradiando tudo de mais pior que há neles para mim. Preciso de um guarda-chuva, Lopes, algo que me proteja de tudo isso. Até a próxima seção...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Eu quero ver o oco

De tanto não saber, já não sei nem como iniciar este post. É tão mais fácil poder tocar nos sentimentos, saber o que os provocou, torcê-los como uma roupa molhada, espremendo, vendo-os ir pelo ralo. O problema é justamente não saber, não decifrar. Já diria Zé Ramalho ‘ninguém tem o mapa da alma da mulher’. Tem algo rolando aqui dentro, é uma bola de gude, daquelas verdes, que faz barulho quando bate no oco que sou eu. É um não saber tão angustiante que não se sabe onde se agarrar, qual bula terá a solução. Como estava falando, não estou triste, não mais como andava nos últimos dias, já não choro mais e já me alimento normalmente. Também não estou estressada, não me preocupo com nada mais, ou melhor, me preocupo com algumas coisas. Mas não permito mais que estas coisas prejudiquem a minha saúde. Sinto um vazio, como uma folha em branco, como a TV que saiu do ar, como um carro que não quer pegar. Pô! Não sei explicar. Uma angústia que vem de repente, sem motivo aparente. Um nada.

*texto escrito há alguns dias

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Tormento

Desde pequena ouço do meu sábio avô a expressão ‘tormento’, que ele usa para nomear as netas de maneira carinhosa. Porém, o que me faz vir aqui, agora, ainda com a toalha enrolada à cabeça nos úmidos cabelos é o conceito antônimo a esse, usado pelo meu avô.
Existe um tipo de tormento que instiga todo mundo, ou pelo menos, assim eu acredito, pois se não for desta maneira que acontece, preciso ir a um analista imediatamente. Diariamente, passamos e sentimos vários tormentos. E o que torna difícil de tocá-los e curá-los é que na maioria das vezes nem sabemos por que nascem, atormentam e fenecem, assim, de repente.
Angústias e anseios que rebentam e, automaticamente, buscam desenfreadamente uma válvula de escape, uma forma de desafogar. Mesmo que seja comer desesperadamente, dançar na solidão da casa enlouquecidamente ou gritar freneticamente. É imprescindível cuspir, exorcizar, e não amordaçar. E, como se não tivesse acontecido nada, o tormento foge, evapora, se apaga e, só de depor aqui, já nem lembro mais qual o tormento pesado que me fez sair do banho quente rapidamente para escrever. Pronto, era isso. Tormento acabou de bater a porta daqui de casa e ir embora. Vou secar os cabelos...(...)...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Um segundo

Eu só quero um segundo da tua atenção. Agora. Porque se demorar um segundo, já não será mais preciso. Um segundo antes de eu girar a chave da porta da minha casa no início da noite gelada desta terça-feira eu jamais imaginava que um segundo depois, uma recordação ainda não estampada se estilhaçaria em pedaços de vidros pelo chão. E hoje, no segundo depois do giro da chave, foi que eu percebi que em um segundo pode-se fazer várias coisas, dizer, se arrepender, surpreender, morrer, ou que às vezes, a inércia do cérebro humano não é capaz de ter uma reação mais ágil que um segundo.
Minha falta de destreza derrubou no chão, hoje, um porta-retrato bastante estimado, que ainda estava sem foto, porque o registro que o estamparia deveria ser muito especial: o afresco de momentos de felicidade, que ainda não foram revelados, tão distantes neste longínquo planalto que hoje eu habito.
Primeiro percebi o som dos cacos, que ecoaram durante um segundo apenas. E no chão já jazia a expressão ‘amigos para sempre’ dispersa feito quebra-cabeça. Creio que seguirei por um bom tempo recuperando cada pó, que um dia foi areia, do vidro, espelho da minha vida. Reflexo que hoje não mostra a pintura da aquarela que eu rabisquei.

Seção textos antigos

Os esquecidos na gaveta

Frango ao molho de manchete
Os detalhes é que apaixonam. A sutileza da arte de cozinhar, o alho picado, o grão de tempero, o cheiro. Uma das coisas que a faculdade me ensinou foi não passar fome. A façanha que a vida te doutrina em fazer a limonada, se ela lhe der limões. Foram muitos bifes e arroz queimados, carnes salgadas, massas grudentas. Como tudo na vida, a gente aprende devagarzinho e não há orgulho maior do que sentir que a criação se aperfeiçoa a cada dia, a cada detalhe.
Assim também é o jornalismo. A cada texto se tem a noção de que se sabe fazer melhor, a cada linha. Um texto redondo é como um filho bonito posto no mundo. Tá bom, eu sei, ainda não coloquei filho no mundo e acredito que a sensação deva ser outra. Mas enfim... É muito saudável quando se percebe que ao longo de cada tortuoso dia a sua criação se torna mais esculpida, vira foto da capa, vira manchete.
Mas, falávamos de comida. Minhas receitas, hoje em dia, já não são um desastre. Tudo começa no riscar do fósforo, que exala uma fumaça que me deixa sem ar por um segundo. A chama azul ofusca, e depois que encontro novamente o foco do meu astigmatismo, despejo o fio de óleo no fundo da panela. O pedaço do que um dia foi uma galinha ou galo, escorrega na mão, deixando a palma picante, tingida de curry. O que mais gosto é o que mais exala, o alho. Os grandes pedaços devem sentir o fio dos dentes, depois. O frigir começa, respingando meu fogão de asas com gordura.
E aos poucos, o cheiro invade a cozinha, a sala, a casa inteira, perfumando as roupas jogadas na cama, se transformando em melodia do silêncio que se projeta, rebate nas paredes e retorna com força ainda maior. Um prato e dois talheres: a charge da solidão.
A degustação deve ser rápida, para que a imagem do almoço em família, com muitos gritos, bacia de salada sendo passada para lá e para cá, por cima das cabeças, o pedido para encher o copo de refrigerante, o tilintar de dezenas de garfos afoitos, não invada totalmente a minha cabeça.
Deito na cama, fecho os olhos, canto uma canção qualquer que me faça suspirar, sinto nas mãos a fragrância condimentada e, no alto, vejo a revoada de origamis multicoloridos que se movem lentamente, me fazendo companhia.

Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro e o pensamento lá em você...
Chove na terra da hospitalidade. O céu cinza só me avisa que estou longe de quem dividiria o guarda-chuva comigo. A massa de ar polar traz com ela uma nostalgia, em puxar para fora do armário os cachecóis e gorros. Poderia estar lendo um livro, sim. Preenchendo os espaços vazios da minha cabeça com conteúdo e inspiração.
Mas não. A minha frente, a velha TV exibe o que eu chamaria de suprassumo da futilidade, Big Brother Brasil. Confesso que acompanhei o programa em seu desenrolar, por mais irreal e falso que ele me pareça. Pois a preguiça de fazer qualquer outra coisa que me exigiria sair do conforto da cama era maior do que eu...(...)...

quarta-feira, 9 de março de 2011

Música de Trabalho

Legião Urbana
Composição: Renato Russo

Sem trabalho eu não sou nada
Não tenho dignidade
Não sinto o meu valor
Não tenho identidade
Mas o que eu tenho
É só um emprego
E um salário miserável
Eu tenho o meu ofício
Que me cansa de verdade
Tem gente que não tem nada
E outros que tem mais do que precisam
Tem gente que não quer saber de trabalhar
Mas quando chega o fim do dia
Eu só penso em descansar
E voltar p'rá casa pros teus braços
Quem sabe esquecer um pouco
De todo o meu cansaço
Nossa vida não é boa
E nem podemos reclamar
Sei que existe injustiça
Eu sei o que acontece
Tenho medo da polícia
Eu sei o que acontece
Se você não segue as ordens
Se você não obedece
E não suporta o sofrimento
Está destinado a miséria

Mas isso eu não aceito
Eu sei o que acontece
Mas isso eu não aceito
Eu sei o que acontece
E quando chega o fim do dia
Eu só penso em descansar
E voltar p'rá casa pros teus braços
Quem sabe esquecer um pouco
Do pouco que não temos
Quem sabe esquecer um pouco
De tudo que não sabemos

Depois das cinzas

Faz um bom tempo que não sento para escrever aqui no blog. Ultimamente tenho andado com uma preguiça intelectual bem grande. Nunca mais li nada interessante e muito menos escrevi algo de que eu pudesse me orgulhar. Cheguei a iniciar um post, mas a preguiça impediu-me de terminá-lo, e notícia velha só serve mesmo para embalar peixe. Mas acho que utilizarei alguns trechos deste texto antigo, coisas que eu queria dizer e que não devem ser jogadas na lixeira do PC.
Na escuridão do meu quarto, a luz do computador atrai um pernilongo que se divertirá no meu corpo assim que eu dormir. Daqui alguns minutos será quarta de cinzas, o primeiro dia do ano para boa parte dos pagãos, cristãos, agnósticos, crentes. Enfim, todos que esperam o ano todo por essa festa, onde irão recarregar as energias ou apenas descarregar o que faz mal.
Sabe, eu acho meus textos tão banais ultimamente. Falo sempre das mesmas coisas. Por exemplo, do meu trabalho que não é tudo o que a faculdade pintou, da minha solidão, da minha falta de vontade para tudo, do meu desgosto.
Queria poetizar, escrever a simplicidade da vida e fazer alguém se emocionar. Terminar um texto e lê-lo vinte vezes depois, de tão fantástico que ele saiu. Colocar no papel cada detalhe, para que quem leia consiga sentir o cheiro do ar que mistura mato orvalhado e poeira, ou o gosto que a saudade coloca na boca da gente. Ando velha e seca, improdutiva. Será que todo poeta tem uma fase de entressafra na plantação de letrinhas? Será que está chovendo demais para florescer a criatividade e a destreza mental? Ora, eu poeta! Sou tão pequenininha, tão ínfima.
Bom, mesmo assim, eu não consigo falar de outra coisa que não seja a minha vida. Se um dia me perguntarem qual é a minha linha, meu tema preferido para escrever, direi que sou eu mesma. Por mais que talvez, às vezes, eu não me pareça interessante suficiente para estar no papel, eu sei que sou capaz de desenhar a minha existência de uma maneira simples, sincera, instigante, meramente atraente e digna para que vocês, caros leitores, doem um pouquinho do seu tempo para me ler. Não só meus escritos, mas a minha pessoa também. E tirar as suas próprias conclusões, é claro.
Então, minhas viagens de Ouro e Prata estão acrescentando um monte para a minha bagagem cultural. Não sei ao certo se eu sou uma pessoa que inspira confiança, ou se as pessoas que frequentam uma rodoviária têm por instinto iniciar uma conversa trivial, sem mesmo eu ter perguntado nada. Fico sempre quietinha, na sala de espera. O cara que cuida lá a sala de espera – não sei qual é bem certa a função dele – sabe sempre qual é o meu destino. Ele abre a porta, me olha e diz: Palmeira das Missões! O motorista já virou meu amigo, dizendo que já fazia algumas semanas que eu não viajava com ele.
Os viajantes entram no local, sentam e já vão logo começando o bombardeio de perguntas. ‘Para onde você está indo?’, dizem eles. Assim conheci um caminhoneiro que transporta cargas valiosíssimas e que teme passar com cigarros ao lado do Complexo do Alemão.
Conheci o carinha que trabalha na gráfica do Correio do Povo, que me deu uma aula de impressão e que ganha mais que eu que trabalho para que as páginas do jornal não saiam em branco. Este tem apenas nove dedos e adora astrologia e me deu uma aula sobre o assunto também. O primeiro passo é sempre deles, mas daí meu instinto de repórter investigativa vem à tona e eu começo uma batelada de questões.
Neste último final de semana conheci um senhor aposentado que me contou que estava indo para o desfile de carnaval no Rio de Janeiro, que tinha parentes na cidade e que estes já haviam comprado seu ingresso que custou R$ 1mil. Ah, ele me disse também que só carregava R$ 500 na carteira, para o caso de ele ser assaltado não levarem tudo o que ele tem, coitado.
E é isso. Sigo meu rumo agora, pois a quarta de cinzas é o primeiro dia do ano para nós brasileiros. Sigo, convivendo com a arte de tocar a realidade com a ponta dos dedos, entremeio a narizes empinados, pobres descalços, corpos sem vida, denúncias, fontes oficiais e populares. A sutileza da vida encapada com recortes de jornais. A inconstância de estar em todos os lugares, envolvido com temas distintos e muitas histórias de vida emocionantes. A pressão do fechamento das páginas, que imponentes e limpas nos desafiam. E claro, a insatisfação com os proventos.
O ano ‘inicia’ e as mazelas continuam as mesmas. E a minha vida banal também.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Brain Storm

Está é a quarta vez que inicio o texto desta postagem. Hoje não é um bom dia para o ‘toró de ideias’, mas sinto uma vontade imensa de me expressar. Gostaria que alguém me ouvisse. Então se eu gritar, me de um colo e me faça dormir. Quero sossego.
Atualmente minha vida anda sem muitas emoções, como uma cena congelada em preto e branco. Os dias passam e a vida viaja no piloto automático. Não temos curvas no caminho, é apenas uma estrada reta, deserta e quente. E dizem ainda que ela será muito longa.
Durante esta vida já fui vários personagens. Já atuei em vários palcos. No início era cinza, falava pouco, ouvia atrás das portas. Era inverno, frio e chuvoso. Nessa época eu era poeta e via desenhos na tinta descascada da parede de madeira. As vozes em todas as bonecas eram as mesmas – a minha. Mas, o sol foi timidamente entrando pelas frestas da casa e aos poucos outras vozes preencheram o espaço inerte.
Foi então que veio a estação dos lírios, com temperaturas amenas e dias salutares. Existia receio, pois os ventos mudaram bruscamente e eu não tinha um porão para proteção. Em uma tarde branda, embaixo de uma bergamoteira, peguei no sono e de repente comecei a sonhar...(...)... Era óbvio que era perfeito demais. As fotos coloridas desbotam com o tempo, todo bom observador sabe disto. Mas como eu sempre estava aérea demais para perceber, só fui compreender a efemeridade quando uma bergamota podre caiu na minha cara e eu acordei.
Porém, o verão anunciou sua chegada, e ele conseguiu maquiar o roxo no meu rosto. O calor trouxe consigo o ápice da juventude. Introspectiva ainda, mas aos poucos a palavra cativava timidamente.
Hoje é outono, apesar de não parecer ser. O verão partiu e a estrada acabou. Infelizmente com o passar das luas as pessoas mudam muito. Eu também mudei. O filme está sem cor. Em contrapartida, agora as consoantes perambulam, rebatem nas paredes e ecoam. O meu grito rola estridente pelas pedras da calçada. A bergamoteira está desfolhada e eu infeliz. Sentada embaixo dos galhos secos eu espero pela estação das flores...(...)...

'Moça, Olha só, o que eu te escrevi
É preciso força pra sonhar e perceber
Que a estrada vai além do que se vê

Sei, que a tua solidão me dói
E que é difícil ser feliz
Mais do que somos todos nós
Você supõe o céu...

Põe mais um na mesa de jantar
Porque hoje eu vou "praí" te ver
E tira o som dessa TV
Pra gente conversar...
E avisa que eu só vou chegar
No último vagão

É bom te ver sorrir
Deixa eu ver à moça
Que eu também vou atrás
E a banda diz: - assim é que se faz.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Carolina

Composição: Chico Buarque

Carolina, nos seus olhos fundos guarda tanta dor, a dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei, que não vai dar, seu pranto não vai nada ajudar
Eu já convidei para dançar, é hora, já sei, de aproveitar

Lá fora, amor, uma rosa nasceu, todo mundo sambou, uma estrela caiu

Eu bem que mostrei sorrindo, pela janela, ah que lindo
Mas Carolina não viu...

Carolina, nos seus olhos tristes, guarda tanto amor, o amor que já não existe,
Eu bem que avisei, vai acabar, de tudo lhe dei para aceitar
Mil versos cantei pra lhe agradar, agora não sei como explicar

Lá fora, amor, uma rosa morreu, uma festa acabou, nosso barco partiu

Eu bem que mostrei a ela, o tempo passou na janela e só Carolina não viu.



*Errata:
Onde se le Carolina, le-se Priscila.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Retrospectiva 2010

Tá certo que já viramos o ano e as retrospectivas são feitas sempre em dezembro. Mas são raras as vezes que tenho disposição de escrever coisas despretensiosas para o blog, pois passo em frente ao computador várias horas ao dia. Deve ser por isso que não chego a enlouquecer sem internet neste cubículo que me impede de ver o céu. A frieza do computador me cansa; sempre que posso prefiro o calor do ser humano.
2010 iniciou com um desafio imenso. Defesa de TCC logo na primeira semana. Passei o dia sem conseguir comer de tanto nervoso. A faculdade chegava ao fim e o medo de ficar na vala dos desempregados aumentava. O dia foi tenso até o momento da defesa, mas depois de muito ouvir de meus avaliadores – a redenção. 9,2 foi a nota e um grande peso das minhas costas foi embora. Agora seria só dormir de manhã, fazer TCC II de tarde e à noite curtir o restinho que ainda nos sobrava da vida fácil de dependente dos pais. A vida que todo mundo pediu a Deus e que acaba antes de a gente valorizar.
Merecidas férias e depois mais uma mudança de logradouro em Fredephalen Westerico. Quase que nossas tralhas rolaram de cima do caminhãozinho morro acima. Um cortiço minúsculo, mas grande era o sentimento fraterno daquela família dividida pela Nilo Cerutti. O semestre iniciou e muitas foram as experiências vividas por aquela grande família. Almoços de domingo, churrascos de sexta à noite, festas no sábado, filminhos, toneladas de batatas fritas, tardes de outono reverenciando a nossa senhora do bolinho de chuva que da tudo errado, bingo da baixada, vizinhos gente boa, quilômetros percorridos em ladeiras. E por aí se vão muitas lembranças.
O El Niño se fez presente e a chuva que impediu-nos de percorrer as longas distâncias na zona rural da cidade, devido ao nosso TCC II, nos permitiu tardes tranquilas de sono. Mas mal sabia eu que a vida real estava por vir, tão antes do que eu esperava. Nas raras tréguas da chuva, partíamos ao encontro de nossos agricultores, estrada de terra a dentro. Em seguida, começou o laboro de verdade, redigir as matérias. Mal sabia eu que um dia eu teria que escrever mais de uma em um único dia. Se tivéssemos mais um dia para adiar o término do texto, sentávamos e deixávamos o trabalho para depois. De grão em grão eis que nasceu a Lida Campeira, depois de passar por uma semana de intenso stress que fazia a mente da gente parar e enlouquecer por alguns segundos. Uma revista que deu orgulho e trabalho – para beber as 50 latinhas de Brahma em homenagem as suas 50 páginas. Breves e últimas férias. E depois, mais uma defesa. Unidas da Lida Campeira, 10, nota 10! Infelizmente a vida acadêmica havia acabado. Com chave de ouro, mas acabado.
Mais uma vez uma mudança e desta vez não era só de logradouro, era de CEP também. A grande família iria se dissipar, cada uma para um lado. Mais uma vez a busca pelas caixas de papelão, repartir os pratos, copos, enrolar em jornal velho, carregar o caminhão e partir, de vez.
Entremeio a tudo isso, jornadas insones de envios de currículos, pois a pensão acabaria e a gente tinha que seguir com as próprias pernas, mãos e cabeças. Até que um dia um telefonema cria chances de novos ares, algo novo. Um teste em um jornal em Carazinho e três meses de experiência estavam garantidos. Um suposto emprego antes mesmo de erguer o canudo. Até que para quem nunca havia trabalhado e que não acreditava que pudesse ser boa naquilo que diziam que sabia fazer, estava ótimo.
Nova cidade, novas pessoas, a velha distância permanecia e a vida de gente grande, que enxerga o chapéu ao invés da jiboia e do elefante. O mundo das pessoas frias, que moram sozinhas em seus apartamentos de um quarto, que almoçam comida congelada, que andam pelas ruas distraídas demais com seus problemas, a ponto de deixar passar a vida desapercebida.
O fim do ciclo se anunciou em 14 de agosto. O brilho e incertezas pulsavam nos olhares de todos os formandos. Mas como o dia 31 de dezembro é sempre igual a primeiro de janeiro, não poderia ser diferente com o 15 de agosto. Agora só resta deixar bem guardado na memória cada segundo especial vivido nestes quatro anos.
E a vida seguia. Trabalho puxado, nada daquela fantasia que se cria na faculdade de que jornalistas irão mudar o mundo, que formarão as opiniões, que derrubarão a ditadura, nada. Uma breve estadia na casa de parentes e enfim, a casa ‘própria’. Porque jornalistas não tem casa própria no segundo mês de trabalho de suas vidas. Mas era minha, minhas coisas, lavar a louça quando quisesse. Mas, tudo isso tem um preço, e não é o preço do aluguel. É o da solidão. Nunca soube ser sozinha, nem mesmo quando eu tinha 13 anos e adorava ficar em casa só durante a tarde. Achava aquilo um máximo, colocava o LP do Kiss no último volume. Mas eu nunca era sozinha como agora.
Os dias passaram, a rotina crescia como planta e a solidão começou a ser suportável. Volta e meia o trem cortava a cidade anunciando sua passagem, acordando a todos e era só virar o lado da cama e voltar a dormir. Encontrei um pouco de prazer no trabalho, que para mim é o que me mantém aqui. Gostar do que faço é fundamental. Agradeço por não ter ouvido meu avô e feito enfermagem.
O fim do ano foi se anunciando e a vida, por enquanto segue a mesma, sem nenhuma mudança prevista. 2010 foi um ano de muitas alterações, de experiências intensas e de saber retirar o melhor daqueles que me rodeavam e que eu demoraria a rever.
2011. Um novo ano, uma nova década, um novo ciclo. Não comi sete uvas, não pulei ondas, não usei o amarelo que deveria, nem guardei o ramo de arruda. Apenas mentalizei a paz. Desejo que este ano eu tenha uma qualidade de vida superior a que tive no fim do ano que passou. Não pedi nada além disso, pois acho injusto. A única coisa que não depende de nós é a paz.