No último mês perdi uma pessoa mitológica da minha infância. E não sei se foi eu que me acostumei com a morte, ou se ainda não consigo acreditar. Não sou uma pessoa de pouca fé. Não. Tenho minhas crenças e me agarro nelas. Não gosto de religiões. Porém, não sei o que pensar sobre a morte, não tenho certeza de nada, não possuo crenças a este respeito.
Há alguns anos senti a primeira perda doída, não que as outras não fossem, mas eram pessoas que pouco convivi e eu era apenas uma criança. Para mim aquilo foi o cair de um precipício, me vi sem saber o que pensar, na loucura de não entender o que acontece depois. Passei a temer muito este fim, e rezei para não morrer tão nova e para não sentir novamente a dor de uma despedida.
Quando fecho os olhos e penso na nona, lembro-me de muitas coisas. Primeiro era a viagem até Carazinho, que para mim, na insignificância de minhas curtas pernas, era como dar a volta ao mundo. Era chegar e ter o rosto esmagado por suas bochechas e mãos. Na despensa fechada pela cortina um balde de leite cheio de varinhas salgadas que só ela soube fazer. O relógio de corda que batia, as parreiras, o poço, a caçada às borboletas com sacos de batatas, a voz do castelinho de manhã cedo, a casinha de bonecas que ela me ajudou a fazer, o beliche.
A única certeza que tenho é que continuo sem saber no que acreditar; que o fim, se é que ele existe, permanece como um temor e incógnita.
Ai Pri... lembro muito bem de tudo isso, da polenta de uva, do amendoim no forno do fogão de lenha, do "querrida" da nona, do banho no banheiro que tinha que secar... tantas coisas que estão na lembrança e fico contente em saber que vivemos... Beijosssss
ResponderExcluirGisele Devens