quarta-feira, 9 de março de 2011

Depois das cinzas

Faz um bom tempo que não sento para escrever aqui no blog. Ultimamente tenho andado com uma preguiça intelectual bem grande. Nunca mais li nada interessante e muito menos escrevi algo de que eu pudesse me orgulhar. Cheguei a iniciar um post, mas a preguiça impediu-me de terminá-lo, e notícia velha só serve mesmo para embalar peixe. Mas acho que utilizarei alguns trechos deste texto antigo, coisas que eu queria dizer e que não devem ser jogadas na lixeira do PC.
Na escuridão do meu quarto, a luz do computador atrai um pernilongo que se divertirá no meu corpo assim que eu dormir. Daqui alguns minutos será quarta de cinzas, o primeiro dia do ano para boa parte dos pagãos, cristãos, agnósticos, crentes. Enfim, todos que esperam o ano todo por essa festa, onde irão recarregar as energias ou apenas descarregar o que faz mal.
Sabe, eu acho meus textos tão banais ultimamente. Falo sempre das mesmas coisas. Por exemplo, do meu trabalho que não é tudo o que a faculdade pintou, da minha solidão, da minha falta de vontade para tudo, do meu desgosto.
Queria poetizar, escrever a simplicidade da vida e fazer alguém se emocionar. Terminar um texto e lê-lo vinte vezes depois, de tão fantástico que ele saiu. Colocar no papel cada detalhe, para que quem leia consiga sentir o cheiro do ar que mistura mato orvalhado e poeira, ou o gosto que a saudade coloca na boca da gente. Ando velha e seca, improdutiva. Será que todo poeta tem uma fase de entressafra na plantação de letrinhas? Será que está chovendo demais para florescer a criatividade e a destreza mental? Ora, eu poeta! Sou tão pequenininha, tão ínfima.
Bom, mesmo assim, eu não consigo falar de outra coisa que não seja a minha vida. Se um dia me perguntarem qual é a minha linha, meu tema preferido para escrever, direi que sou eu mesma. Por mais que talvez, às vezes, eu não me pareça interessante suficiente para estar no papel, eu sei que sou capaz de desenhar a minha existência de uma maneira simples, sincera, instigante, meramente atraente e digna para que vocês, caros leitores, doem um pouquinho do seu tempo para me ler. Não só meus escritos, mas a minha pessoa também. E tirar as suas próprias conclusões, é claro.
Então, minhas viagens de Ouro e Prata estão acrescentando um monte para a minha bagagem cultural. Não sei ao certo se eu sou uma pessoa que inspira confiança, ou se as pessoas que frequentam uma rodoviária têm por instinto iniciar uma conversa trivial, sem mesmo eu ter perguntado nada. Fico sempre quietinha, na sala de espera. O cara que cuida lá a sala de espera – não sei qual é bem certa a função dele – sabe sempre qual é o meu destino. Ele abre a porta, me olha e diz: Palmeira das Missões! O motorista já virou meu amigo, dizendo que já fazia algumas semanas que eu não viajava com ele.
Os viajantes entram no local, sentam e já vão logo começando o bombardeio de perguntas. ‘Para onde você está indo?’, dizem eles. Assim conheci um caminhoneiro que transporta cargas valiosíssimas e que teme passar com cigarros ao lado do Complexo do Alemão.
Conheci o carinha que trabalha na gráfica do Correio do Povo, que me deu uma aula de impressão e que ganha mais que eu que trabalho para que as páginas do jornal não saiam em branco. Este tem apenas nove dedos e adora astrologia e me deu uma aula sobre o assunto também. O primeiro passo é sempre deles, mas daí meu instinto de repórter investigativa vem à tona e eu começo uma batelada de questões.
Neste último final de semana conheci um senhor aposentado que me contou que estava indo para o desfile de carnaval no Rio de Janeiro, que tinha parentes na cidade e que estes já haviam comprado seu ingresso que custou R$ 1mil. Ah, ele me disse também que só carregava R$ 500 na carteira, para o caso de ele ser assaltado não levarem tudo o que ele tem, coitado.
E é isso. Sigo meu rumo agora, pois a quarta de cinzas é o primeiro dia do ano para nós brasileiros. Sigo, convivendo com a arte de tocar a realidade com a ponta dos dedos, entremeio a narizes empinados, pobres descalços, corpos sem vida, denúncias, fontes oficiais e populares. A sutileza da vida encapada com recortes de jornais. A inconstância de estar em todos os lugares, envolvido com temas distintos e muitas histórias de vida emocionantes. A pressão do fechamento das páginas, que imponentes e limpas nos desafiam. E claro, a insatisfação com os proventos.
O ano ‘inicia’ e as mazelas continuam as mesmas. E a minha vida banal também.

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