sexta-feira, 20 de maio de 2011

‘Olha Lopes’

Desde a data fatídica de 2 de junho do longínquo 1988, me sentia um ser muito estranho, sempre distante dos padrões impostos pela sociedade, tanto de beleza quanto de comportamento: digamos que sempre fui um pouco antissocial. Porém, isso começou a mudar assim que minha vida se cruzou com o jornalismo, muito que por acaso. Sinceramente, nunca foi meu grande sonho de infância ser jornalista, até porque sempre fui muito tímida. E, digamos que caí de gaiato nesta história mais pelo empurrão de quem queria muito me elogiar e não sabia como, então falava que eu escrevia bem. Ha-ha. Só porque eu era criança e escrevia palavrinhas difíceis para as crianças da minha idade minha família achava que eu tinha potencial para ser repórter um dia. Na verdade atribuo isso a ninguém além de minhas duas avós, professoras, e que inseriram um vocabulário um pouquinho mais rebuscado que os demais, aos almoços e reuniões familiares.
E assim, jornalismo passou a ser um ‘sonho’. E eu deixava ele lá nos sonhos, pois era mesmo impossível de ser realizado. Até que o Cesnors entrou na minha vida, com esse nome estranho mudou tudo de lugar, inclusive eu. Uma universidade pública, a 70 Km de casa, e com o curso de Jornalismo. Fudeu! Virei Bixo! Em um dos primeiros dias de aula, uma professora inicia uma conversa, pedindo para que cada um falasse de onde vinha e qual o objetivo com o curso. Pensei rápido, pois eu só sabia de certeza da onde eu tinha vindo: ‘da terra do Carijo da Canção Gaúcha, Tche! Ah, e meu objetivo com o Jornalismo é ser um dia a garota do tempo’. ‘É, geralmente para ser a moça do tempo eles exigem uma aparência’, foi a resposta da querida professora. Olha, não quero refletir sobre o que ela quis dizer com isso.
Ok! Estava inserida no habitat dos jornaleiros. Mas, como eu estava falando, sempre me senti estranha, até entrar neste mundo. Hoje, escrevo para iniciar uma seção de análise imaginária, não para mim, e sim para as pessoas que me cercam, pois preciso entendê-las. É questão de honra! E hoje, caros leitores, descobri que sou completamente normal; que tenho sim os sentimentos à flor da pele, mas consigo controlar ao menos os ruins e malévolos, ou deixá-los soltos, mas na minha cabeça; que levo uma vidinha infame, acordando toda manhã e dormindo à noite. Talvez a vida de vocês seja assim também, normalzinha. Ou, talvez vocês digam: ‘nossa, não sou normal, tenho tantos problemas’. Mas, meus amigos, vocês não conhecem pessoas anormais...
Ainda na faculdade, encontrei pessoas que sabiam menos ainda o que estavam fazendo ali, ao menos deve ser o que passava na cabeça de alguém que, em uma prova de gramática pergunta ao professor se a palavra ‘mesmas’ existe. Garota, este não é o seu lugar! Tinha também os lunáticos, de olhos arregalados, que vigiavam as palavras de todo mundo, e se um riso largo viesse do fundo da sala, eles olhavam com olhos de repressão, como se estivéssemos gargalhando deles. Em seguida comecei a perceber o quão normal eu era. Tranquilinha, ali no meu canto, sem grandes erupções de personalidade.
Talvez eu esteja rotulando os jornalistas, por acreditar que foi mergulhada neste contexto que encontrei a anormalidade do ser humano. Ou talvez, até a faculdade, eu era pequena demais, assim como as pessoas que me rodeavam, para eclodir um lado B latente. Das duas, uma.
Pulando a faculdade, hoje, inserida no cruel habitat da vida Real, com letras maiúsculas, sou jornalista atuante, uma vez que ser jornalista formada não vale muita coisa. Nunca vivi tão tranquila comigo mesma, porque a convivência diária com pessoas muito estranhas me fez perceber que sou uma água com açúcar.
Convido vocês a serem meus analistas, então, eu os chamarei de Lopes, para imitar a Mercedes:
Olha Lopes, minha vida é corrida, mas a rima perfeita é: fudida. O que eu tenho? Não, nada, eu sou normal. Vim aqui, Lopes, porque preciso entender o que acontece com as pessoas que eu convivo. E porque eu preciso entendê-los? Pô, porque eles estão acabando com a minha vidinha normal. Afetam-me diretamente, irradiando tudo de mais pior que há neles para mim. Preciso de um guarda-chuva, Lopes, algo que me proteja de tudo isso. Até a próxima seção...

Um comentário:

  1. Pri... adorei, acho q estou precisando de um Lopes na minha vida tbm. Quam sabe assim começo a entender esse povinho q me cerca. beijooo

    Gisele Devens

    ResponderExcluir