Tá certo que já viramos o ano e as retrospectivas são feitas sempre em dezembro. Mas são raras as vezes que tenho disposição de escrever coisas despretensiosas para o blog, pois passo em frente ao computador várias horas ao dia. Deve ser por isso que não chego a enlouquecer sem internet neste cubículo que me impede de ver o céu. A frieza do computador me cansa; sempre que posso prefiro o calor do ser humano.
2010 iniciou com um desafio imenso. Defesa de TCC logo na primeira semana. Passei o dia sem conseguir comer de tanto nervoso. A faculdade chegava ao fim e o medo de ficar na vala dos desempregados aumentava. O dia foi tenso até o momento da defesa, mas depois de muito ouvir de meus avaliadores – a redenção. 9,2 foi a nota e um grande peso das minhas costas foi embora. Agora seria só dormir de manhã, fazer TCC II de tarde e à noite curtir o restinho que ainda nos sobrava da vida fácil de dependente dos pais. A vida que todo mundo pediu a Deus e que acaba antes de a gente valorizar.
Merecidas férias e depois mais uma mudança de logradouro em Fredephalen Westerico. Quase que nossas tralhas rolaram de cima do caminhãozinho morro acima. Um cortiço minúsculo, mas grande era o sentimento fraterno daquela família dividida pela Nilo Cerutti. O semestre iniciou e muitas foram as experiências vividas por aquela grande família. Almoços de domingo, churrascos de sexta à noite, festas no sábado, filminhos, toneladas de batatas fritas, tardes de outono reverenciando a nossa senhora do bolinho de chuva que da tudo errado, bingo da baixada, vizinhos gente boa, quilômetros percorridos em ladeiras. E por aí se vão muitas lembranças.
O El Niño se fez presente e a chuva que impediu-nos de percorrer as longas distâncias na zona rural da cidade, devido ao nosso TCC II, nos permitiu tardes tranquilas de sono. Mas mal sabia eu que a vida real estava por vir, tão antes do que eu esperava. Nas raras tréguas da chuva, partíamos ao encontro de nossos agricultores, estrada de terra a dentro. Em seguida, começou o laboro de verdade, redigir as matérias. Mal sabia eu que um dia eu teria que escrever mais de uma em um único dia. Se tivéssemos mais um dia para adiar o término do texto, sentávamos e deixávamos o trabalho para depois. De grão em grão eis que nasceu a Lida Campeira, depois de passar por uma semana de intenso stress que fazia a mente da gente parar e enlouquecer por alguns segundos. Uma revista que deu orgulho e trabalho – para beber as 50 latinhas de Brahma em homenagem as suas 50 páginas. Breves e últimas férias. E depois, mais uma defesa. Unidas da Lida Campeira, 10, nota 10! Infelizmente a vida acadêmica havia acabado. Com chave de ouro, mas acabado.
Mais uma vez uma mudança e desta vez não era só de logradouro, era de CEP também. A grande família iria se dissipar, cada uma para um lado. Mais uma vez a busca pelas caixas de papelão, repartir os pratos, copos, enrolar em jornal velho, carregar o caminhão e partir, de vez.
Entremeio a tudo isso, jornadas insones de envios de currículos, pois a pensão acabaria e a gente tinha que seguir com as próprias pernas, mãos e cabeças. Até que um dia um telefonema cria chances de novos ares, algo novo. Um teste em um jornal em Carazinho e três meses de experiência estavam garantidos. Um suposto emprego antes mesmo de erguer o canudo. Até que para quem nunca havia trabalhado e que não acreditava que pudesse ser boa naquilo que diziam que sabia fazer, estava ótimo.
Nova cidade, novas pessoas, a velha distância permanecia e a vida de gente grande, que enxerga o chapéu ao invés da jiboia e do elefante. O mundo das pessoas frias, que moram sozinhas em seus apartamentos de um quarto, que almoçam comida congelada, que andam pelas ruas distraídas demais com seus problemas, a ponto de deixar passar a vida desapercebida.
O fim do ciclo se anunciou em 14 de agosto. O brilho e incertezas pulsavam nos olhares de todos os formandos. Mas como o dia 31 de dezembro é sempre igual a primeiro de janeiro, não poderia ser diferente com o 15 de agosto. Agora só resta deixar bem guardado na memória cada segundo especial vivido nestes quatro anos.
E a vida seguia. Trabalho puxado, nada daquela fantasia que se cria na faculdade de que jornalistas irão mudar o mundo, que formarão as opiniões, que derrubarão a ditadura, nada. Uma breve estadia na casa de parentes e enfim, a casa ‘própria’. Porque jornalistas não tem casa própria no segundo mês de trabalho de suas vidas. Mas era minha, minhas coisas, lavar a louça quando quisesse. Mas, tudo isso tem um preço, e não é o preço do aluguel. É o da solidão. Nunca soube ser sozinha, nem mesmo quando eu tinha 13 anos e adorava ficar em casa só durante a tarde. Achava aquilo um máximo, colocava o LP do Kiss no último volume. Mas eu nunca era sozinha como agora.
Os dias passaram, a rotina crescia como planta e a solidão começou a ser suportável. Volta e meia o trem cortava a cidade anunciando sua passagem, acordando a todos e era só virar o lado da cama e voltar a dormir. Encontrei um pouco de prazer no trabalho, que para mim é o que me mantém aqui. Gostar do que faço é fundamental. Agradeço por não ter ouvido meu avô e feito enfermagem.
O fim do ano foi se anunciando e a vida, por enquanto segue a mesma, sem nenhuma mudança prevista. 2010 foi um ano de muitas alterações, de experiências intensas e de saber retirar o melhor daqueles que me rodeavam e que eu demoraria a rever.
2011. Um novo ano, uma nova década, um novo ciclo. Não comi sete uvas, não pulei ondas, não usei o amarelo que deveria, nem guardei o ramo de arruda. Apenas mentalizei a paz. Desejo que este ano eu tenha uma qualidade de vida superior a que tive no fim do ano que passou. Não pedi nada além disso, pois acho injusto. A única coisa que não depende de nós é a paz.
Bela retrospectiva, lindo texto. adorei!
ResponderExcluirForam quatro anos que ficarão pra sempre em nossa lembrança, como uma fase feliz da vida, na qual nos jogamos de cabeça e sobemos aproveitar casa segundo...
Que 2011 seja repleto de paz, de espírito, paz no coração...
Conte comigo Pri, quando precisar grite (e quando não precisar também), eu pego um glorião e vou te ver!
hehe