Enquanto
a Carminha ainda não descobre que a Nina é a Rita, minha vida de
retirante em busca de paz segue veloz feito um tordilho negro solto
na estrada de terra. É impressionante como as horas passam
apressadas quando o rigor e o compromisso de um trabalho já não se
fazem mais presentes na rotina. Para ocupar o tempo ocioso e ajudar o
mundo a ser um lugar um pouquinho melhor passei a fazer parte de uma
ONG que cuida de animais abandonados. Confesso que não dou a vida
pelos bichinhos, mas admito que se todas as pessoas se engajassem em
qualquer causa que faz o bem seja a quem for, as coisas tomariam
outros rumos. Palmeira das Missões nunca foi um lugarejo de pessoas
organizadas, politizadas e dispostas a prestar serviços voluntários
para melhorar o local onde vivem. Mas, percebo que agora grupos como
esse que participo começam a criar corpo e responsabilidade, além
das iniciativas solitárias que não chegam ao conhecimento da grande
mídia.
Ainda
com um pensamento do tempo dos coronéis incrustado, a cidade caminha
a passos de formiga e sem vontade rumo ao desenvolvimento. Sempre fui
destes adolescentes sonhadores que, angustiados, esperavam o momento
de começar a faculdade e nunca mais voltar para a terra da erva
mate, salvo as visitas à família. Porém, após alguns poucos anos
vivendo fora, sinto que estava totalmente errada em querer sair o
quanto antes daqui. Pois, é por pensamentos fugitivos como este que
a vilinha da Palmeira se acostumou a ver ir embora toda a juventude,
sagacidade, audácia, renovação e vitalidade daqueles que são os
únicos aptos para mudar a realidade que nos encontramos. Aqui nada é
como deveria ser. A saúde pública é um caos, não temos
oportunidades de emprego, a cultura foi praticamente esquecida, e por
aí se vai. Contudo, hoje me sinto responsável por isso, e de uma
forma ou de outra quero tentar fazer a minha parte para que a cidade
prospere...(...)...
Bom, prometo que voltarei em breve contar mais novidades, nos raros momentos que o frio não congelar os dedos.